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A Estrada Até Aqui

por Waldeque - 22-nov-2018



Quando eu olho para trás e me lembro do meu primeiro dia na unidade de Vitória eu vejo como eu era "bobo", como eu não tinha a mínima noção do que iria encontrar no Niten. Eu lembro que me interessei em aprender kenjutsu simplesmente porque eu queria saber como usar uma espada, pois desde criança sempre fui apaixonado por espadas e guerreiros. Nesse primeiro dia eu lembro que não treinei nem nada, pois cheguei atrasado e estava de calça jeans, eu achei bem diferente ver aquelas pessoas estranhas gritando com toda a força quando atacavam e só me vinha à cabeça pensar o por que disso. Apesar dessa estranheza inicial foi no final do treino quando todos se reuniram para o Momento de Ouro e o Senpai Simonassi me chamou para me apresentar e participar do Momentos de Ouro, eu pude sentir e ver o Niten de verdade, era um sentimento muito primal e bruto, mas hoje eu entendo que era a energia do Niten passando por mim.

Logo depois fiz minha matrícula e comecei a treinar, lembro como era complexo e difícil o Iaijutsu, mas ainda assim foi o qual eu mais gostei na época. O clima no Dojo era muito bom a maioria dos alunos tinha a mesma faixa de idade e por isso falavam a mesma língua. Outra coisa muito boa foi aprender sobre o Souji, logo no segundo dia eu fui tão instruído sobre como era a limpeza do Dojo, que eu senti que tinha que dar o meu melhor na limpeza. As formalidades eram um pouco confusas para mim no começo, era uma sensação diferente, mas ainda assim muito interessante, pois eu respeitava as pessoas, fazia Orei de coração, não era uma coisa imposta, era fluido.

Outra coisa que vale ressaltar antes de avançar mais, é que logo no começo já fui apresentado ao meu maior inimigo até hoje, que é o excesso de força, no começo eu achava que tinha que bater o mais forte possível, para mostrar que eu tinha energia e que eu era forte, mas não via o quanto isso iria me marcar de forma negativa pra sempre.

Treinei depois de um tempo, mas logo tive de sair por um tempo por causa do meu emprego na época, saí durante uns meses, mas lembro que fiquei com o Niten na cabeça o tempo todo, sempre pensava em voltar e então quando surgiu a oportunidade voltei pro Niten, engraçado como naquela época eu ainda não dava muita importância em comprar o kimono e as shinais, isso é umas das coisas que quando olho para trás e me lembro, eu me arrependo muito. Outra vez tive que parar com os treinos em decorrência do emprego.

A minha segunda volta para o Dojo foi de vez, foi para fazer a diferença, comprei logo o kimono, hakama e obi. Me inscrevi para ser bolsista e continuei a treinar, essa segunda volta marca alguns dos melhores momentos na minha vida, tanto dentro quanto fora dos treinos, era excelente poder voltar tantas vezes e ser recebido com tantos sorrisos, e a mesma sensação do primeiro dia.

Os Momentos de Ouro eram sempre únicos, era impressionante o jeito que eles dialogam com a gente, como nos tocam e nos fazem repensar a vida em si. Os Birudôs eram também uma coisa nova para mim, poder conhecer os senpais e os kohais sempre foi impressionante, poder estreitar os laços entre os alunos do Niten.

Foi nesse período que ganhei minha primeira graduação, lembro como se estivesse com mil quilos nas costas, senti o kimono pesar pela primeira vez, senti que não poderia levar as coisas na brincadeira e que dali pra frente teria que ver as coisas de forma mais séria.

Logo depois surgiu a vaga de estágio na ADM, eu sabia apenas por relatos e histórias como era o Niten fora do Espírito Santo, eu nunca tinha ido em nenhum Gashuku ou visita em outra unidade e estava muito longe de fazer um Shugyo. Na minha cabeça passou mil coisas como: curiosidade, euforia e o sentimento de fazer cada vez mais pelo Niten, então logo me candidatei e depois de um tempo fui escolhido para ter a oportunidade de estagiar na ADM, demorou uns meses e tive alguns contratempos mas consegui, deu tudo certo e fui para São Paulo pela primeira vez sozinho e para encarar algo que seria outro ponto de virada na minha vida.

O estágio de vinte e três dias na ADM foi uma experiência única, era realmente surreal poder conviver ao lado do Sensei, o grande Sensei que eu só tinha contato através de histórias, poder receber aquele olhar do Sensei e me sentir diminuir de tamanho, sentir a energia dele passando por mim. Além do Sensei, conhecer o Senpai Wenzel, o Senpai dos Senpais, e poder trabalhar com ele, receber ordens, correções e elogios foi realmente único. Poder ver como é que funciona o coração do Niten, mesmo que seja só um relance, poder ver como é trabalhar realmente com a disciplina samurai aplicada à risca. Era realmente muito bom trabalhar na ADM na parte da manhã e poder treinar em diferentes unidades durante a semana, conhecer todos os tipos de pessoas. Quando eu paro para pensar nesse período de tempo eu só consigo pensar em uma conclusão: todo o trabalho que eu prestei como estagiário, todo o esforço, não paga nem um porcento de tudo que eu aprendi lá, sou muito grato até hoje por ter tido essa experiência.

Quando voltei pra casa eu estava sim mais forte, e foi graças ao fato de eu estar mais forte que eu pude suportar essa, que foi a pior, fase da minha vida, muita coisa aconteceu que não vem ao caso, o importante é, tive que me ausentar do Niten, pois não tinha mais condições de ir treinar. Esse foi o maior período de tempo que passei sem treinar desde que comecei de lá atrás.

Depois de muito tempo quando eu voltei pro Dojo, eu estava meio receoso de que não seria bem recebido, pois já era a terceira vez que eu voltava, mas eu estava errado, fui recebido com os mesmo sorrisos de sempre e isso me fez perceber que esse era o meu lugar, que o Niten mora no meu coração e que nunca irá sair. Desde então prometi a mim mesmo que nunca pararia de treinar, mesmo que por obra do destino eu tiver que me ausentar, eu sempre vou voltar pro Niten.

Já estou treinando direto a um bom tempo, e agora mais do que nunca meu desejo de ser uma parte maior do Dojo está ainda mais forte. Tenho lutado muito com meu antigo inimigo, o excesso de força, mas um dia irei vencer ele, tenho muita coisa para me aperfeiçoar ainda, e sempre vou ter, faz parte do caminho, mas uma coisa é certa: quero ficar no Niten pra sempre.

Arigatou Gozaimashitá
Waldeque








Tags: Egan2018_DEZ,
comentários  

Formentini - VitóriaShitsurei shimasu,

Arigatou gozaimashita pelo relato Waldeque! Sábado passado você me puxou muito no treino, e teve uma hora que pensei, entre um Piloto e outro: `Waldeque parece um Senpai!` Omedetou!

Continue na forja!

Sayounara!

Couto - VitóriaShitsurei shimasu,

O Waldeque que conheci quando entrei no Niten nitidamente já não era mais o mesmo Waldeque que você descreveu no início do texto. Conhecer a história dos colegas, as motivações, a evolução, tudo isso inspira a perseverar no Caminho.

Sayounara!
Couto



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