Café com o Sensei

Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa

12-set-2014

HIDENSHO 50 - Vislumbre Magico

Quando algum segredo (Hiden) nos é passado de forma não verbal, uma sensação de plenitude, espanto e até de felicidade nos preenche. Um vislumbre mágico. A descoberta da pedra filosofal.
Sempre que passei por estes momentos, fico imaginando o quanto fui abençoado por ter descoberto esta senda de guerreiros samurais e o sentimento de gratidão brota do fundo do coração...
Estes momentos são difíceis de serem transcritos, mas hoje temos a sorte de ter algumas palavras de um aluno, também faixa preta de karate, que habilmente conseguiu expor momentos deste ¨vislumbre mágico¨.
Foi anteontem, no treino de Jojutsu:



"Shitsurei Shimasu, segue o relato sobre o que senti quando me foi aplicado o Tsukizue:

Preparação
Confesso que estava com dificuldade para me focar naquele dia, inclusive no treino de Jô e levei alguns belos Uchikotês de Jô do Sensei para acordar.
Depois de ter muitos detalhes corrigidos da minha postura, corte e atitude, o Sensei começou o movimento do Tsukizue.

O Primeiro Golpe
No começo, olhei para os olhos do Sensei mas logo senti meus olhos puxados para o movimento "vagaroso" e preciso de seus braços. Enquanto estes alcançavam a altura do ombro, voltei meus olhos aos do Sensei e a última coisa que vi foi uma súbita mudança na expressão e no ki do Sensei, e um golpe ligeiro começando: minha visão tremeu e recuei três passos instintivamente. Foi uma energia invisível intensa me sobrepujando e meu corpo gritou para que eu recuasse, como se uma fera tivesse aparecido subitamente na minha frente. Meu espírito foi totalmente quebrado antes que o primeiro movimento do Sensei tivesse se completado. Mesmo depois do movimento, meu coração estava acelerado e levei alguns segundos para acalmar minha respiração.

O Segundo Golpe
Na segunda vez, em que me preparei melhor para levar o golpe, também não consegui conter o espanto. Embora não tenha recuado como da primeira vez, meu corpo tremeu e tentou se jogar para trás. Mesmo se o corpo não recuou, o espírito o fez. Entendi que não fui surpreso pelo medo de uma fera que de repente apareceu, mas por algo que estava na na minha frente e que eu sabia que estava por vir.

O que me foi mostrado naquele dia foi um segredo do caminho que não pode ser entendido só de ser simplesmente contado, e quero entendê-lo algum dia.
Um tempo atrás, li em um café que "Jô é combate" e achei que havia compreendido. Depois desse treino, acredito que começo a ter uma ideia do significado." 
- Akio (Unidade Ana Rosa)